quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Nosso “estado de vigília” filosófica

As temáticas que envolvem a nossa vida cotidiana, na maioria das vezes, ou quase sempre, tratam de assuntos mais periféricos e circunstanciais, que não remetem tanto à interrogações existenciais mais fundamentais. A tendência à acomodação, nos tira de nosso “estado de vigília” filosófica. O crescimento pessoal, a nossa percepção mais apurada das coisas surge, quando saímos ao encontro de um mundo que ainda não conhecemos por completo, quando reconhecemos que tão pouco sabemos para parar no meio do caminho e desistir de continuar caminhando.
Certa vez, Descartes deu uma bela resposta aos seus próprios questionamentos a respeito desse desafio pessoal de ir sempre buscando uma maior compreensão da vida e que, na medida em que vou conhecendo e me questionando, tenho que ter algumas precauções.
É natural que o homem busque a verdade, mas ainda assim, é natural que antes disso, ele se sinta confortável e protegido para viver. A busca da verdade se confronta assim com o seu primeiro obstáculo: o próprio homem. É nesse sentido que Descartes, depois de meditar sobre o homem, vai elaborar a seguinte metodologia: quando vamos restaurar ou reconstruir o edifício das nossas concepções em cima de novos e melhor elaborados questionamentos, frutos de uma busca e de uma reflexão mais aprofundadas, vamos ser cuidadosos conosco mesmos. Vamos começar por construir uma “situação intermediária de sentido”, ou seja, saímos da casa onde morávamos, e construímos por um tempo, uma pequena moradia que nos vai deixar a vontade para, sem pressa, podermos construir da forma melhor possível, o edifício do nosso conhecimento. É como fazem os grandes construtores de nosso tempo, que para elaborarem grandes projetos arquitetônicos, não vendem tudo para ir morar na rua, a relento, até que seu projeto seja executado por completo.
As questões mais existenciais, mexem com todo o aparato antropológico que construímos até hoje, ou pelo menos, com os fundamentos da casa de nossas concepções. É por isso que, uma mente aberta, não é uma mente que muda facilmente de opinião, mas uma mente que procura compreender sempre mais as próprias concepções e se questiona sobre as alheias, quando estas são relevantes. Temos que ter um cuidado especial com duas coisas: sabermos lidar com o utilitarismo moderno, que nos é cotidiano; e principalmente, cuidarmos para não cairmos num relativismo existencial, onde os parâmetros categoriais percam sua eficácia metodológica ingênita, não tendo mais sentido para nós, nos preocuparmos em elaborar uma busca cognoscente mais sistemática.
Os nossos questionamentos nos ajudam na medida em que são bem conduzidos. Perguntar por perguntar, um fazer uma pergunta sem sentido ou sem discernimento, não nos traz um grande progresso intelectual. Por isso a importância da reflexão.

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