terça-feira, 7 de junho de 2011

Abstrair a beleza

Os transcendentais do Ser, o bom, o belo, o uno e o verdadeiro, são o substrato fundamental da realidade perceptível, mas é sobretudo na beleza, no dizer de Hans Urs von Balthasar, que podemos contemplar o explendor da verdade enquanto esta se manifesta na realidade concreta, sob múltiplas formas.
Na beleza emerge a essência mesma das coisas em sua unidade e verdade, contudo, urge o desafio de perceber a beleza em sua desfiguração, naquelas situações em que ela está velada ou desfigurada. Quem consegue fazer isso é um artista da vida, que da sinfonia do universo, consegue discernir melodias em meio de tão grande caos e confusão. Um grande desafio surge para aqueles que se propõem desvendar a beleza na vida, pois essa, na maioria das vezes, precisa ser lapidada, é uma conquista, não está simplesmente dada, precisa ser buscada, apreciada, desvelada.
Possamos meditar sobre a beleza, de como chegamos a vislumbrada, mesmo quando não está claramente explícita. Talvez devamos nós mesmos, quais escultores da existência que nos foi dada, desvendar os mistérios da beleza que a vida nos lega a cada dia.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Liberdade X condicionamentos

Não podemos ter a ilusão de que somos inteiramente livres, absolutamente indeterminados e completamente indefinidos até tomarmos uma decisão. E muitas vezes nos deparamos com situações que afrontam até mesmo contra os nossos princípios, e você se apercebe como um ser paradoxal. Não dá para falar que podemos, de uma hora para outra, mudar de direção sem uma prévia análise e reflexão, do contrário, nossas decisões são impensadas e acabamos por cair no risco de nos arrependermos por fazer algo que possa até mudar o rumo de nossa vida, por uma simples decisão apenas. Contudo, precisamos entender que ninguém pode tomar uma decisão por mim, nenhuma pessoa pode adentrar em minha intimidade e decidir sobre o que fazer diante dos caminhos a seguir. Por isso, também não podemos falar em condicionamento total, e que não exista liberdade. Na verdade, nós entendemos muito mal o que seja realmente liberdade. Liberdade é aquela capacidade, especificamente humana, de poder se humanizar, de poder crescer, de poder aprender, de poder desenvolver-se, de poder errar, de poder fazer uma grande besteira, de poder depois se arrepender, e, por fim, de poder ser gente! Uma vez Platão disse no mito da caverna, que o Sumo Bem, a idéia mais perfeita do mundo das idéias, nunca pode ser completamente abarcada, mas que pode ser sempre buscada e que, na medida em que progredimos em conhecimento da verdade, vamos descobrindo com mais plenitude essa idéia originária.

Princípios são os elementos basilares que constituem a nossa capacidade de decisão. Pode-se incluí-los dentro de vários âmbitos de nossa atividade, seja ela relacional (ética, social, política, cognoscitiva, etc.), seja ela pessoal (reflexão), seja ela cultural ou religiosa, etc.

Liberdade X condicionamentos, é um paradoxo humano. Conhecer nossos condicionamentos, assim como nossa capacidade de liberdade (porque é uma conquista antropológica), nos conscientiza, mas não nos tira da responsabilidade de nos formarmos a nós mesmos através de nossa decisão. O livre-arbítrio ai entra em jogo.Para as pessoas é difícil entender o que seja livre-arbítrio, sendo que para o senso comum a liberdade se não for absolutizada, é como algo fabuloso ou parcialmente existente. E permanece a dúvida, e persiste a problemática.

No entanto, o radicalismo antropológico sempre cai por terra quando se considera a pessoa enquanto um tudo. Aristóteles, certa vez, disse: "In media virtus" (no meio está a virtude). Não dá para absolutizar nos extremos, nem relativizar por completo, algo que existencialmente é um paradoxo enexorável, um equilíbrio constante, uma uni-totalidade ontológica e existencial.

Parâmetros são categorias de medida elementar, frutos de um processo de construção cognoscitivo. São eles o métro de nossa consciência conhecente para avaliar as realidades que nos defrontam em nosso dia-a-dia.

Contudo, ai você pode questionar-me dizendo que caímos num relativismo completo, onde os parâmetros pessoais das consciências indivíduais, seriam completamente difusos em modos de pensar desconexos, dando assim, cancha para opiniões contraditórias e impossíveis de serem conciliadas. Sem falar no problema da verdade. Não existiria verdade num completo relativismo. Mas eu digo: mesmo no relativismo haveria uma verdade, a verdade de que tudo é relativo, e isso seria inquestionável, um dogma.

A questão dos parâmetros é interessante porque revela a complexidade das múltiplas relações humanas na sociedade. Como é bom a diversidade, e o interessante é que, mesmo na diferença, conseguimos nos comunicar, e é a linguagem o espelho das idéias.

A única forma de medirmos as nossas categorias de medidas, é elaborando parâmetros de parâmetros. Isso é muito comum em nossa sociedade global.

Nós somos cheios dessas coisas, e isso se chama convenções. Nós convencionamos tudo, e a linguagem é a rainha das convenções, onde nominamos tudo, desde objetos, idéias, até sentimentos.

O ser humano e os valores

O ser humano é sujeito de muitas necessidades. Algumas são naturais, outras são adquiridas. Necessidade é o dinamismo que move o ser humano na busca do que lhe é conveniente. E o que é conveniente a alguém chama-se bem. Quando o bem for julgado pelo sujeito como resposta satisfatória às suas necessidades, torna-se um valor. Através de um juízo de valor, o homem julga convir a si mesmo o bem que lhe confere valor, que dá perfeição. E a perfeição é a finalidade do agir humano. Daí a preocupação, o interesse de pensar a realidade em função do valor que possui para a plenificação da pessoa humana.
O ideal que está no horizonte dos projetos humanos é o desejo de sentir-se completo, totalmente feito (per-feito) pelos valores correspondentes à heterogeneidade de suas necessidades biológicas, estéticas, econômicas, morais, etc. A determinação da escala dos valores deve levar em consideração o modo de relacionamento do indivíduo segundo a preferência de satisfação de suas necessidades. Os valores religiosos estão escalonados num âmbito superior, segundo Scheler, acima dos valores infra-humanos (biológicos), dos valores inframorais (noéticos, estéticos, sociais) e dos valores propriamente morais. Contudo, os valores religiosos abrangem os valores morais. O valor sagrado é um valor racional podendo ser supra-racional, mas nunca é irracional (contra a reta razão). O valor religioso abrange o valor moral natural, podendo ultrapassá-lo por valores sobrenaturais. Os valores religiosos são os valores mais sublimes, mais perfeitos que conduzem a suma perfeição. O ideal humano é o ideal de perfeição, e isso, os valores religiosos podem nos proporcionar em plenitude.
A filosofia é a ciência que busca o conhecimento da verdade. O filósofo é aquele que é amigo do saber. Os primeiros filósofos foram aqueles que primeiramente propuseram as questões existenciais, desvinculando a explicação das origens da vida e da ordem do cosmos das fábulas míticas das teogonias. A asserção “amor pela sabedoria” caracteriza o filósofo, que é aquele que ama a sabedoria, aquele que é amigo da sabedoria, como nos transparece o próprio significado etimológico da palavra “filosofia” (do grego filos: amigo; sofhia: sabedoria). Assim, o sentido do humano deveria ser o objetivo principal e natural da filosofia, devido à compreensão que se tem como ciência humana, amor ao saber. Scheler embasa seu protagonismo filosófico no amor como força propulsora para uma sincera busca da verdade fundamental.
O amor constitui uma forma de conhecimento afetivo profundo do valor que é iluminado pelo intelecto. Os “pensamentos do coração” são envoltos de afetividade nos quais o valor se revela. Afetividade é a presença do prazer na satisfação de necessidades causadas pelo valor. O valor afetivamente nos realiza, e os valores mais elevados, o fazem de maneira mais plena.
Pelo modo como se porta, o sujeito vai criando seu modelo de vida, sua personalidade moral, seu ethos. O ethos é o lugar interno do homem, seu caráter moral adquirido através de atos e hábitos. Cada homem constrói seu ethos pessoal conforme as circunstâncias em que vive, e guia-se por esse ethos. O ethos é o fundamento e a orientação da práxis humana.
Podemos compreender o anseio social hodierno nessa crise de valores. "O homem é naturalmente axiotrópico: vive à caça de valores." (EMPINOTTI). O homem os sente, experimenta-os, "preenche o vazio ontológico de sua sede de perfeição. Nem sempre, entretanto, é feliz nesta aventura gostosa da existência e isto porque sua essência não encontrou o alimento propulsor." (EMPINOTTI). O homem anseia à eternidade, à perfeição, anseia pela plenitude. Nesse sentido, "a pessoa humana deve sentir a presença efetiva e eficaz dos valores, que no final é o que importa para uma vida rica em plenitude." (EMPINOTTI). A axiologia nasce da ontologia, se afirma na ética e de expande na deontologia (dever). Em Max Scheler o ponto de ignição axiológico se dá no campo psicológico, no "sentir emocional" que se expande na fenomenologia, para culminar na dimensão do sagrado.
A realização pessoal acontece quando realizamos ao nosso irmão que está do nosso lado. O amor que nos impulsiona ao sagrado é o amor-caridade. Esse amor edifica, constrói, dignifica a pessoa humana. Esse amor amplia o nosso horizonte axiológico. Esse amor é que deve mover a nova educação na sociedade que almejamos. Contudo, a caridade não espera, ela faz. Não podemos esperar que os políticos deixem de roubar, ou que os sistemas de governo realizem todas as utopias humanas. Temos que começar agora, ou seremos cúmplices das barbáries que acontecem hoje na sociedade. Não podemos continuar sendo coniventes com o sistema atual que ministra o status quo social. Há um ditado que diz “quem cala consente”. Não podemos dar o nosso consentimento ao que acontece hoje no âmbito social e político. Temos que pautar as nossas relações pelos valores que Scheler dizia serem os mais sublimes, os valores que fundamentam toda a escala dos demais valores vitais para a realização da pessoa humana. Mas estes valores não se realizaram na materialidade da existência se antes não se desalienarem do seu estado ideal para constituir um estado de coisas real e palpável pelas nossas ações intencionais.

Nosso “estado de vigília” filosófica

As temáticas que envolvem a nossa vida cotidiana, na maioria das vezes, ou quase sempre, tratam de assuntos mais periféricos e circunstanciais, que não remetem tanto à interrogações existenciais mais fundamentais. A tendência à acomodação, nos tira de nosso “estado de vigília” filosófica. O crescimento pessoal, a nossa percepção mais apurada das coisas surge, quando saímos ao encontro de um mundo que ainda não conhecemos por completo, quando reconhecemos que tão pouco sabemos para parar no meio do caminho e desistir de continuar caminhando.
Certa vez, Descartes deu uma bela resposta aos seus próprios questionamentos a respeito desse desafio pessoal de ir sempre buscando uma maior compreensão da vida e que, na medida em que vou conhecendo e me questionando, tenho que ter algumas precauções.
É natural que o homem busque a verdade, mas ainda assim, é natural que antes disso, ele se sinta confortável e protegido para viver. A busca da verdade se confronta assim com o seu primeiro obstáculo: o próprio homem. É nesse sentido que Descartes, depois de meditar sobre o homem, vai elaborar a seguinte metodologia: quando vamos restaurar ou reconstruir o edifício das nossas concepções em cima de novos e melhor elaborados questionamentos, frutos de uma busca e de uma reflexão mais aprofundadas, vamos ser cuidadosos conosco mesmos. Vamos começar por construir uma “situação intermediária de sentido”, ou seja, saímos da casa onde morávamos, e construímos por um tempo, uma pequena moradia que nos vai deixar a vontade para, sem pressa, podermos construir da forma melhor possível, o edifício do nosso conhecimento. É como fazem os grandes construtores de nosso tempo, que para elaborarem grandes projetos arquitetônicos, não vendem tudo para ir morar na rua, a relento, até que seu projeto seja executado por completo.
As questões mais existenciais, mexem com todo o aparato antropológico que construímos até hoje, ou pelo menos, com os fundamentos da casa de nossas concepções. É por isso que, uma mente aberta, não é uma mente que muda facilmente de opinião, mas uma mente que procura compreender sempre mais as próprias concepções e se questiona sobre as alheias, quando estas são relevantes. Temos que ter um cuidado especial com duas coisas: sabermos lidar com o utilitarismo moderno, que nos é cotidiano; e principalmente, cuidarmos para não cairmos num relativismo existencial, onde os parâmetros categoriais percam sua eficácia metodológica ingênita, não tendo mais sentido para nós, nos preocuparmos em elaborar uma busca cognoscente mais sistemática.
Os nossos questionamentos nos ajudam na medida em que são bem conduzidos. Perguntar por perguntar, um fazer uma pergunta sem sentido ou sem discernimento, não nos traz um grande progresso intelectual. Por isso a importância da reflexão.

O processo de autoconhecimento humano

Percebo que o processo de autoconhecimento humano é necessariamente infindo enquanto durar a nossa existência sobre esse mundo, pois do contrário, já haveriam respostas prontas e perfeitas para tudo, e não haveria mais necessidade de continuar se questionando. Também porque, haveria um estágio da vida em que todos os nossos problemas estariam resolvidos, e não precisaríamos mais resolver coisas alguma na vida. Mas me parece que, quanto mais aprendemos e conhecemos a nós mesmos e ao mundo circundante, mais perguntas nos surgem, e mais curiosos nos tornamos, se conseguimos manter uma mente livre e um coração de desbravadores da vida! Isso prova que é muito mais amplo que o próprio pensamento a existência cósmica, e que, nós mesmos, quanto mais preparados estamos para refletir e aprender, mais condições temos de compreender que, antropológica e ontológicamente, não há realmente uma fórmula definitiva e totalizadora que abrace a essência do humano, até mesmo porque esta é essencialmente dialética, um tornar-se constante que envolve estruturas específicas e determinadas, constituição contextualizada, relacionamento constante e complementar. Somos em eterna atualização e potencialização de formas atuantes e refletivas que contribuem, determinam e libertam a nossa própria busca, compreensão e vivência de nós mesmos. Não somos passíveis de definição, até porque toda passividade anula capacidade de redarguir, outra porque toda definição é cristalização e sedimentação conceitual de algo que, muitas vezes é essencialmente e existencialmente dinâmico. Há categorizações racionais para organizar cognoscitivamente as nossas elucubrações lógico-intelectivas, e as nossas vivências e experiências empíricas. Também, emocional-intuitivamente, há maneiras de organizar vivências afetivas que fogem ao fulcro da simples racionalização e intelectualização. “O coração tem razões que a própria razão desconhece” (novamente cito Pascal, nessa mesma linha vem Max Scheler com as suas intuições emocionais-cognoscitivas). O senso prático emerge da experiência realizada com prévia reflexão dos atos intencionais e voluntários. Nesse sentido, há coisas que só eu posso fazer e experimentar, no entanto, não podemos polarizar os sentidos e significados das definições, pois como já foi dito, não é só experiência, nem só reflexão, é razão e emoção, afetividade e racionalidade que vão me dar um senso da efetividade, da prática, da atividade concreta. As instâncias relacionais não são totalizadoras, mas determinantes, porque necessárias, para as nossas experiências pessoais. No entanto, enquanto existe liberdade e livre-arbítrio, não dá para afirmar simplesmente que as nossas relações e relacionamentos nos condicionam por completo. São sim importantes, mas não totalmente configuradores de nossa identidade pessoal. As formalizações da consciência racional são categorizantes e instigantes para as nossas escolhas, se formos seguir o juízo da consciência. Mas até para isso somos livres. Perante o tribunal da consciência, há muitas formas de defesa pessoal que muitas vezes procurar sanar, ou até mesmo, atenuar os efeitos de nossos princípios e valores morais, que se contrapõem aos impulsos da nossa vontade e aos contínuos desejos fisio-biológicos, que são parte constituinte de uma natureza complexa e ”peregrinante” como é a nossa. A dimensão das nossas relações externas são relativas a diversos fatores, dentre eles: o contexto (pois somos seres situacionados), nosso estado emocional-afetivo (para a apreensão e processamento afetivo das experiências, e avaliá-las de acordo), o momento em que estamos vivendo em nosso desenvolvimento psico-sócio-antropológico, as nossas escolhas derivantes de nossa liberdade, etc. Nós conhecemos e nos conhecemos muito superficialmente se levarmos em consideração tantos fatores a analisar. O nosso relacionamento com o meio circundante e conosco mesmos por meio da auto-análise, nos remete a uma cada vez mais profunda descoberta de si. Também o fato da economia das relações (dar e receber, receber e dar), somos contribuintes com os outros nesse processo gnosiológico, ao mesmo tempo que recebemos muito mais do que proporcionamos se formos somar que somos apenas mais uma pessoa em meio a toda uma gama de meios e atos relacionais. Por isso, há uma partilha que congênita à nossa natureza e ao nosso processo humano mais essente e existencial. O protagonismo pessoal acaba por ser apenas uma radicalização desse princípio que é realizador e aprimorador da nossa própria natureza sócio-relacional. O nosso conhecimento cresce com o tempo, mais ele pode não apenas aumentar em informações, em quantidade, mas em qualidade, em verdadeira sabedoria, no momento em que colocamos parâmetros de inteligibilidade e conscientização que possam sempre estar abertos a novas realidades e a maneiras de percepção diferenciadas das outrora aceitas por nós. Mas tudo isso deve ser visto não como uma mudança sem sentido e sem rumo, mas como uma ampliação de horizontes, onde minha sabedoria toma consciência da minha própria ignorância: “Sei que nada sei” (Sócrates). Só assim, alcançaremos um conhecimento humildade e de qualidade que possa ser verdadeiramente válido e compensável para a nossa natureza dinâmica e perguntante.

Quando filosofamos

Quando filosofamos, quando reflexionamos sobre algum assunto específico, ou sobre idéias esparsas que nos passam na cabeça, ou sobre questionamentos que se inter-relacionam, nós vamos aos poucos criando, exercendo a nossa capacidade de criatividade intelectual, aos poucos a originalidade surge desses “surtos intelectuais”, desses “devaneios filosóficos”, e vamos descobrindo que muitas das respostas aos nossos próprios questionamentos, nós mesmos vamos constatando nos andar das idéias, nas sistemáticas e arroladas conversações. Até mesmo, a forma perguntante de pensar é, sem dúvida, uma conquista, pois o questionamento nos tira de um estado de adormecimento de consciência, e nos insere numa vigília filosófica. Por isso, é sadio filosofar, é nesse sentido que as mentes pensantes podem com mais convicção buscar a sabedoria, a verdade, o sentido, o significado, das coisas.

Eu sou aquele que procura o verdadeiro eu...

"Eu sou aquele que procura o verdadeiro eu... quem mais anseia em saber quem sou eu... sou eu mesmo...". É bastante interessante essa humildade intelectual que nos deixa sempre abertos a uma busca insessante da verdadeira sabedoria! Nossa percepção de nós mesmos, de nossa estrutura fisio-psico-espiritual, ela não acontece quando estamos atrelados a uma reflexão egológica, quando nos voltamos para nós mesmos. Isso é um segundo momento. Você nem sabe quem é se não se relacionar. É por isso que, desde os primeiros instantes que inicias o teu relacionamento com os outros e com o ambiente que te envolve, a tua natureza socio-comunitária, essencialmente alteritária (para-o-outro, para-si), é que vai dimensionar o teu autoconhecimento. As minhas vivências são experiênciações, são metamorfoses antro-psicológicas, transmutações mentais, que mudam a ti mesmo. Não dá para estabelecer incondicionalmemente um modo de pensar inflexível, "somos caniços pensantes" (Pascal). O caminho se faz caminhando. Não há trilha sem desbravador! Mas há algumas fórmulas descontextualizadas prontas, algumas um pouco mais situadas, mas sempre experiências heterônomas! A busca mesma remete a uma forma de buscar, a um método, está ligada as tuas iniciativas intencionais e cognoscitivas. Contudo, não acaba aí, ela continua com um aprendizado maximizante que amplia a tua cosmovisão, os teus horizontes, e acaba por elevar o teu próprio pensamento a olhares mais amplos e abrangentes. Talvez aí nasça um método a partilhar, uma maneira de caminhar que tenha algo de comum com os outros, um jeito de ser que possa acrescentar algo de tua experiência que seja realmente válida e universalmente aplicável à vida de outras pessoas... O indivíduo imerso no âmbito social é uma individualidade sociável e associável com os outros, mas mantê-se sempre individualidade associada. As instâncias relacionais condicionam a própria formalização dessas experiências que, na realidade, são totalmente instantâneas e simultâneas. Toda forma de exposição metodológica de nossas experiências cotidianas é, na verdade, apenas formalizações de nossas próprias percepções e das percepções alheias, e da comunicação intersubjetiva e da maneira como a mensagem intelectual-cognoscível chega por intermédios até o outro que vai processar, organizar e sistematizar essas informações, muitas vezes deturpadas em seu significado real. No entanto, a comunicação é um risco saudável para o nosso crescimento filosófico!!